As influências do ciclo menstrual no estudo e performance musical: um estudo exploratório

  • Joana Ribeiro

Resumo

Este trabalho apresenta o projeto de investigação que consistiu num estudo exploratório sobre as influências do ciclo menstrual no estudo e performance musical. Pretendeu-se alcançar uma primeira compreensão deste tema, dentro da área da música, de forma a incentivar a realização de estudos futuros. Tendo em conta que existem poucos estudos que exploram este tema, provavelmente pelo tabu que o rodeia, é exposta uma revisão bibliográfica baseada em fontes nas áreas da saúde e do desporto, seguida de uma investigação de caráter misto, com métodos qualitativos (Entrevistas) e métodos quantitativos (Fichas de Caraterização e Relatórios Individuais). Para responder à primeira pergunta de investigação: “Quais os pontos de vista de 30 estudantes de música relativamente à influência do ciclo menstrual no estudo e performance musical?”; foram realizadas entrevistas a 30 estudantes de música, com cerca de 10 anos de prática na área. Por outro lado, os relatórios individuais tiveram como finalidade o registo das Experiências de Fluxo, de 17 estudantes de música, num intervalo de dois meses, de forma a testar a hipótese que as experiências de fluxo destas mulheres podem estar comprometidas na Fase Lútea Final (FLF) ou na Fase Folicular Inicial (FFI) e, ainda, conseguir responder à segunda pergunta de investigação: “De que maneira as fases do ciclo menstrual afetam as experiências de fluxo de 17 estudantes de música?”.

Palavras-Chave: Ciclo menstrual, prática musical, experiências de fluxo, Experience Sampling Method (ESM).

 

Abstract

This document presents the investigation project that consisted in an exploratory study about the influences of the menstrual cycle in musical study and performance. The research focused firstly on a preliminary understanding about the topic, within the area of Music, so that it could become matter of interest for future studies. Considering the lack of studies that explore this theme, probably because of the taboo that surrounds it, it is presented a bibliography review, which was supported by health and sports scientific articles, followed by a mixed methods research that combines qualitative methods (Interview) and quantitative methods (Characterization Sheets and Individual Reports). To answer the first research question: “What are the views of 30 music students regarding the influence of the menstrual cycle on study and musical performance?”; interviews were conducted with 30 music students, with about 10 years of practice in the area. On the other hand, the individual reports were intended to record the Flow Experiences, of 17 music students, in an interval of two months, in order to test the hypothesis that the flow experiences of these women may be compromised in the Final Luteal Phase (FLF) or in the Initial Follicular Phase (FFI) and still be able to answer the second research question: “How do the phases of the menstrual cycle affect the flow experiences of 17 music students?”.

Keywords: Menstrual Cycle, Music Practice, Flow Experiences, Experience Sampling Method (ESM).


 

 

Introdução

A ideia do projeto de investigação apresentado, “As Influências do Ciclo Menstrual no Estudo e Performance Musical. Estudo Exploratório”, teve origem na minha experiência pessoal. Ao longo do meu percurso escolar, foi crescendo a ideia de que, talvez, o meu Ciclo Menstrual (CM) estivesse a influenciar a minha produtividade no estudo e a minha performance em palco. No ano anterior ao meu mestrado, comecei a questionar-me se esta influência era apenas aplicada a mim, ou também a outras mulheres músicas. Adquiri o hábito de perguntar a amigas mais próximas se estavam no período menstrual nos momentos em que me parecia que estas evidenciavam maior stress. Efetivamente, todas as respostas que obtive confirmavam a minha hipótese pessoal. Compreendendo que este podia ser um assunto interessante e útil, não só para satisfazer a minha curiosidade, mas também para alertar muitas mulheres, que seguem uma carreira tão exigente como a da música, na qualidade de investigadora acredito ser importante descobrir se as fases do CM têm algum impacto na prática musical.

De forma a abordar este assunto, procurei informação em três fontes distintas: na literatura existente sobre o tema, nos relatos de entrevistas realizadas a 30 estudantes de música e, ainda, nos resultados obtidos pelo teste Experience Sampling Method (ESM) que se desenvolveu ao longo de dois meses.

Para esta investigação foram traçados quatro objetivos: primeiro, descobrir se existem ligações entre o estudo de música e o ciclo menstrual; segundo, caso esta seja uma realidade provável, consciencializar as estudantes de música sobre as condicionantes de género nesta profissão; terceiro, realização de uma revisão bibliográfica o mais completa possível de modo a que este tema seja mais simples de pesquisar em futuras investigações; quarto e último, criar uma contextualização para mulheres músicas que sirva de guia para medidas atenuantes dos efeitos dos ciclos hormonais e, também, para que as ajude a interpretar esses sintomas no quotidiano.

 

Estado da Arte e Revisão da Literatura

Ao realizar uma pesquisa inicial sobre a relação entre o CM e a música, consegue-se encontrar um único artigo que explora a origem da música e a sua evolução (Charlton, 2014). Neste, é teorizado que a música evoluiu segundo a seleção sexual, tal como acontece, por exemplo, nos pássaros, onde os parceiros são escolhidos pelo seu canto. Os resultados do referido artigo demonstram que, durante a fase de ovulação, as mulheres revelam preferência por compositores de música mais complexa.[1] Cruzando o tema do CM com outras áreas relacionadas com a música, tais como: artes, dança, cinema e criatividade, a mestranda também não encontrou quaisquer outros estudos. Assim sendo, após esta pesquisa inicial, rapidamente chegou à conclusão da dificuldade em encontrar bibliografia adequada ao tema escolhido, limitando, assim, a pesquisa das áreas relacionadas com a arte. Percebendo esta limitação, a revisão apresentada neste projeto é sustentada em campos de estudo diferentes do da música, principalmente, os da saúde e do desporto.[2]

Após uma investigação à vasta bibliografia na área da saúde, é facilmente detetada uma certa urgência, por partes dos investigadores, para a pesquisa deste tema. É natural presumir que o CM possa afetar o quotidiano da população feminina (Sudheer, Jagadeesan, & Kararshah, 2016), tendo em conta que o desconforto e a falta de concentração (sintomas associados à menstruação) dificultam a realização de tarefas (Sudheer, Jagadeesan, & Kararshah, 2016). No entanto, existe, ainda, muita dificuldade em conversar sobre este tema de forma clara e direta (Loucks & Thompson, 1968). A necessidade de definir estes conteúdos com rigor científico é imperiosa, já que muitas mulheres afirmam que se sentem mais relaxadas quando sabem que certos comportamentos estão efetivamente associados ao CM (Caplan, McCurdy-Myers, & Gans, 1992).

Comparando os números de mulheres afetadas pelo CM, é possível observar dois aspetos: primeiro, a discrepância entre os resultados que podem variar entre 40,5%, numa amostra de 145 mulheres (Rees, 1953), a 78%, numa amostra de 99 indivíduos (Lamb, Ulett, Masters, & Robinson, 1953); segundo, esta diferença de resultados acontece devido à variada amostra utilizada.[3] De todos os artigos analisados, aquele que mais se assemelha a esta investigação, na escolha da amostra, foi o de Andersch, Wendestam, Hahn e Ohman, de 1986, onde 70%, numa população de 1083 mulheres, é afetada, de alguma maneira, pelo CM (Andersch, Wendestam, Hahn, & Ohman, 1986). Embora se possa afirmar que a maior parte da população feminina é afetada pela menstruação, apenas uma pequena parte apresenta sintomas severos, impedindo-as de realizar as rotinas normais (Andersch, Wendestam, Hahn, & Ohman, 1986); (Rees, 1953); (Hallman & Georgiev, 1987).

 

Fontes Bibliográficas da área da Saúde


O Ciclo Menstrual

O ciclo menstrual faz parte do sistema reprodutor feminino, mais concretamente do ser humano. Inicia-se, geralmente, na adolescência com a menarca e termina, habitualmente, na meia-idade com a menopausa. É controlado por hormonas, sendo as principais a progesterona e o estrogénio, que preparam os órgãos reprodutores para a criação de uma nova vida. As principais mudanças que ocorrem ao longo do CM podem ser divididas em duas grandes fases: a folicular e a lútea (Shier, Butler, & Lewis, 2007).

 No que concerne à fase folicular, esta tem início com o primeiro dia de menstruação e apresenta baixas concentrações de estrogénio e progesterona, como é possível observar na figura 1, retirada do artigo de Halbreich de 2003. Com o final da menstruação dá-se o aumento de estrogénio, provocando a ovulação, normalmente catorze dias depois do início do ciclo. Após a ovulação, inicia-se a fase lútea caracterizada por grandes concentrações de progesterona e moderadas concentrações de estrogénio. Com a descida abrupta de ambas as hormonas, ocorre novamente a menstruação, iniciando um novo CM (Halbreich, 2003); (Kowalczyk, Evans, Bisaga, Sullivan, & Comer, 2006).

 

Figura 1 - Alteração Hormonal de dois Ciclos Menstruais.

(Halbreich, 2003)

 

Ainda que este seja o comportamento normal do ciclo, existem variantes entre diferentes mulheres e, inclusive, entre diferentes ciclos da mesma mulher. O CM pode variar na sua duração, na sua regularidade ou no facto de produzir ou não um óvulo (anovulação). Esta é uma das razões pela qual se torna tão difícil estabelecer certezas sobre este tema. Alguns fatores que podem influenciar alterações do comportamento do ciclo de uma mulher serão abordados posteriormente.[4]

 

A Tensão Pré-Menstrual

A designação “Tensão Pré-Menstrual” (TPM) deve o seu nome a Robert Frank, que, em 1931, através da observação de várias mulheres, concluiu que estas apresentavam sintomas idênticos no final da fase lútea (pré-menstruação), bem como no início da fase folicular (menstruação) (Frank, 1931). Esses sintomas podem variar no tipo e na intensidade (Andersch, Wendestam, Hahn, & Ohman, 1986). Apesar de ainda não existir uma opinião científica unânime, alguns autores apontam para o facto de a causa do TPM poder estar relacionada com a flutuação das hormonas sexuais (Rubinow & Schimidt, 1995). Todavia, alguns estudos sugerem que o TPM pode acontecer mesmo com os níveis hormonais normais (Backstrom, et al., 1983); (Fridén C. , et al., 2003).

Os principais sintomas da Tensão Pré-Menstrual são: tensão, irritação, ansiedade, depressão, insónia, fadiga, dor de cabeça, náuseas e seios inchados (Backstrom, et al., 1983). A regularidade do ciclo não parece afetar a intensidade e frequência dos sintomas (Andersch, Wendestam, Hahn, & Ohman, 1986). Estes tendem a surgir nos últimos cinco a quatro dias da fase lútea e vão desaparecendo no início da fase folicular (Backstrom, et al., 1983).

O contraste entre a fase lútea tardia e a fase folicular tardia em muitas destas mulheres é impressionante. Isto não só nos ajuda a ver que há uma parte boa e má do ciclo, mas também que possíveis correlações para algum efeito de contraste, que conduzem à amplificação das diferenças, também devem ser feitas (isto é, a fase folicular pode ser experimentada e reportada como particularmente boa, em parte como resultado do contraste com uma fase pré-menstrual muito má e vice-versa). (Backstrom, et al., 1983, p. 505)[5]

 

Uma minoria da população feminina, 3,4% a 4,6% (Rivera-Tovar & Frank, 1990), sofre de Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) (American Psychiatric Association, 2013) que consiste na presença de sintomas menstruais tão intensos que dificultam o trabalho diário normal, chegando, por vezes, a impossibilitar de todo a realização de tarefas rotineiras (Chawla, Swindle, Long, Kennedy, & Sternfeld, 2002).

 

Fontes Bibliográficas da área do Desporto

Na extensa revisão bibliográfica de Constantini, Dublov e Lebrun, de 2005, que se intitula: “O Ciclo Menstrual e a Performance do Desporto”, são abordados vários componentes importantes para a prática do desporto que são influenciados pelo CM. Seguindo este modelo de pensamento, é possível fazer analogias com a área da música. Alguns destes componentes são igualmente importantes para um músico, porque também necessita de um alto rendimento físico e mental a fim de conseguir ser um intérprete nos dias atuais.

 

Componentes mentais - Controlo Neuromuscular

O controlo neuromuscular consiste na habilidade subconsciente do cérebro para controlar o corpo durante o movimento (Myers, Wassinger, & Lephart, 2009). Este controlo é bastante complexo e requer a cooperação de vários sistemas do corpo humano (Leeuvwen, 1999). Segundo Kami, Vidigal e Macedo, “as baixas concentrações do estrogênio podem acarretar comprometimento do controle neuromuscular durante a fase menstrual” (Kami, Vidigal, & Macedo, 2017, p. 360). Contudo, a veracidade dos resultados deste estudo é questionável devido à pequena amostra e a pouca informação que sobre esta é apresentada. Em concordância com os autores anteriormente abordados, foi consultado um artigo de 2008 que conclui “que o controlo neuromuscular da extremidade inferior é afetado pela fase menstrual.”[6] (Dedrick, et al., 2008, p. 75).

Todavia, é possível apresentar um estudo que indica resultados contrários às duas investigações anteriormente referidas. Com uma amostra de 64 mulheres, Montgomery e Shultz avaliaram os resultados exercidos pela flexão do joelho em diferentes fases do CM. Neste estudo, os autores explicam que não conseguiram encontrar diferenças para este tipo de controlo neuromuscular durante as fases do CM. Porém, não arriscaram “descartar possíveis efeitos hormonais em outros aspectos do controle neuromuscular que contribuem para o movimento dinâmico[7] (Montgomery & Shultz, 2010, p. 592). A principal fragilidade deste estudo consiste na inclusão de mulheres com uma prática física regular.[8]

 

Componentes mentais - Tempo de Reação

O tempo de reação é definido como sendo o intervalo de tempo em que um estímulo é percebido até que seja feita a apropriada reação voluntária do corpo (Kumar, Mufti, & Kisan, 2013). Vários estudos apontam para tempos de reação díspares ao longo do CM (Sudheer, Jagadeesan, & Kararshah, 2016); (Kumar, Mufti, & Kisan, 2013); (Fridén C. , Hirschberg, Saartok, & Renström, 2006). As principais diferenças consistem num curto tempo de reação na fase lútea, em comparação com um longo tempo de reação na fase folicular. Contrariamente, é possível observar um estudo de 1980 que falha em “demonstrar qualquer relação confiável entre a performance e o estado hormonal…”[9] (Hutt, Frank, Mychalkiw, & Hughes, 1980, p. 122). À semelhança de outros estudos, descritos no capítulo anterior, também este omite elementos chave da caracterização da amostra.

 

Componentes mentais - Propriocepção

A propriocepção é definida como a consciência que uma pessoa tem sobre as suas próprias extremidades (Aydog, et al., 2005); (Lephart, Pincivero, Giraldo, & Fu, 1997) e é fundamental para a estabilidade funcional, bem como para os padrões coordenados de movimentos (Myers & Lephart, 2000). A influência do CM na propriocepção humana não é clara, tendo em conta que os dados apontam para resultados inferiores ou na fase pré-menstrual ou na fase menstrual (Barbosa, Montebelo, & Guirro, 2007); (Aydog, et al., 2005). No entanto, esta diferença de resultados entre as fases é significativa.

 

Componentes físicos - Postura

As compilações dos vários artigos mencionados demonstram que o balanço da postura lateral é amplamente afetado pelo CM (Darlington, Ross, King, & Smith, 2001), verificando-se principalmente em mulheres com TPM (Fridén, et al., 2005). Em 2003, foi feito um estudo numa amostra de treze mulheres, com o objetivo de investigar os assuntos acima abordados, tendo sido comprovado que as “…mulheres com TPM (cíclico) tiveram significativamente um maior balanço postural comparadas com mulheres sem TPM (não cíclico). Uma tendência para um maior balanço postural durante o meio da fase lútea foi detetada entre as mulheres com TPM.[10] (Fridén C. , et al., 2003, p. 437).

 

Componentes físicos - Temperatura e Fadiga

Na prática de qualquer atividade o ser humano sente fadiga ao mesmo nível de temperatura interna, a partir dos 40 graus celsius, independentemente do exercício e da sua duração (González-Alonso, et al., 1999). Por esta razão, a temperatura torna-se um componente importante para o rendimento do estudo e performance de um músico. Na medida em que a “progesterona causa um aumento significativo na temperatura basal do corpo…”[11] (Goodland, Reynolds, McCoord, & Pommerenke, 1953, p. 315), é expectável que as mulheres atinjam a fadiga mais rapidamente na fase lútea, dado que, nesta fase, apresentam um valor mais elevado de progesterona.

A hipótese acima explanada é refutada por um estudo de 2001, onde os resultados demonstraram que “… a fadiga e as propriedades contráteis estimuladas eletricamente dos quadríceps não mudaram ao longo do ciclo menstrual.”[12] (Janse de Jonge, Boot, Thom, Ruell, & Thompson, 2001, p. 165). Este estudo apresenta várias fragilidades, nomeadamente a falta de definição da amostra.

 

Componentes psicológicos - Humor

Vários são os sintomas do CM que afetam a predisposição emocional das mulheres, tais como, tristeza, depressão, perda de paciência, irritabilidade, mau humor, pior destreza, lassidão e ansiedade (Posthuma, Bass, Bull, & Nisker, 1986); (Darlington, Ross, King, & Smith, 2001); (Andersch, Wendestam, Hahn, & Ohman, 1986); (Backstrom, et al., 1983).

Na tentativa de perceber as razões para estes sintomas, um estudo de 2008 investigou qual a resposta emocional de vinte e duas mulheres perante diferentes expressões faciais, comparativamente às duas fases hormonais – a lútea e a folicular –, concluindo que “…a ativação da amígdala é modulada pelas fases do ciclo … possibilitando maior sensibilidade social nas fêmeas durante sua fase folicular, facilitando assim a interação social.” (Derntl, et al., 2008, p. 1038)

 

Outros componentes

Um dos objetivos desta investigação é a apresentação de uma revisão bibliográfica completa, que permita impulsionar futuras investigações dos conceitos deste estudo. Neste sentido, este capítulo apresenta algumas referências que podem servir de ponto de partida para o desenvolvimento de outros componentes mentais, físicos e psicológicos.

Em primeiro lugar, destaca-se um artigo de Posthuma, Bass, Bull e Nisker de 1986, que tentou avaliar a performance funcional de vinte e uma mulheres (doze com TPM e nove sem TPM). As conclusões demonstraram que a performance das mulheres com TPM piorou para os testes de “Crawford Small Parts Dexterity Test-Part II”, durante o final da fase lútea e o início da fase folicular. Este teste avalia os componentes de coordenação, equilíbrio, concentração, controlo e perseverança (Posthuma, Bass, Bull, & Nisker, 1986).

Em seguida, é referido um artigo de Lã, Ledger, Davidson, Howard e Jones, de 2007, que aborda um componente especialmente importante para o canto: a voz. Neste são observados os efeitos que as flutuações hormonais podem ter na estabilidade vocal, concluindo que:

Aqui, mostramos que drospirenone contendo pílula contracetiva oral (Yasmin, Schering AG, West Sussex, Reino Unido) com propriedades antiandrogénicas e antimineralocorticóides demonstra uma redução significativa na irregularidade do padrão de vibração das cordas vocais durante a performance de cantores clássicos altamente treinados.[13] (Lã, Ledger, Davidson, Howard, & Jones, 2007, p. 754)

 

Por fim, compreendendo que existem vários componentes físicos e mentais que são influenciados pelo CM feminino, com piores resultados nas fases pré-menstrual e menstrual, é possível questionar se estas fases serão propensas à ocorrência de diversas lesões que os músicos podem sofrer. No desporto existem vários estudos que abordam esta questão; contudo, apresentam resultados discordantes, sejam eles a favor deste pressuposto ou contra (Fridén C. , Hirschberg, Saartok, & Renström, 2006); (Fouladi, Rajabi, Naseri, Pourkazemi, & Geranmayeh, 2012 ); (Chaudhari, et al., 2007).

 

Influências

Verifica-se que o fator genético é predominante no que diz respeito à dor menstrual (Lamb, Ulett, Masters, & Robinson, 1953). No entanto, este princípio não é clarificado, uma vez que não se sabe, em concreto, se está relacionado com os genes ou com a proximidade familiar entre mães, filhas e irmãs. No que diz respeito ao fator da idade, não existe uma uniformidade da influência dos sintomas. (Andersch, Wendestam, Hahn, & Ohman, 1986, p. 43)

Partindo do princípio de que o anticoncecional foi desenvolvido a fim de regular o ciclo hormonal feminino, é possível afirmar que este é um fator influenciador dos sintomas e componentes a este associados (Sudheer, Jagadeesan, & Kararshah, 2016).

Finalmente, aborda-se o fator mais influente: o exercício. Na medida em que a secreção de estrogénio necessita de energia calórica, “quanto mais ativa for uma atleta, mais provável é que ela tenha irregularidades menstruais.”[14] (Shier, Butler, & Lewis, 2007, p. 877). Por esta razão, mulheres que estão envolvidas em exercício físico excessivo têm tendência para terem menos sintomas e, em casos extremos, a privação da menstruação.

 

Metodologia de Investigação (Fundamentação Teórica)

São várias as conclusões que se podem retirar da revisão bibliográfica apresentada neste estudo. A primeira remete para a inexistência de informação sobre a ligação entre o CM e a prática de música. A segunda determina que, através da anterior, é possível concluir que ainda não se conhece a forma como este ciclo intervém na rotina destas mulheres. A terceira apresenta a impossibilidade de avaliar, independentemente, todos os componentes anteriormente descritos num único estudo, pela quantidade de trabalho e recursos necessários. A avaliação das experiências de fluxo em diferentes fases do CM foi a solução encontrada para conseguir avaliar estes componentes de um modo global, aferindo a sua influência sobre a performance/estudo de música.

O conceito de experiência de fluxo foi apresentado, pela primeira vez, por Csikszentmihalyi, em 1975, com o livro “Beyond Boredom and Anxiety”. Neste livro, um novo modelo de motivação intrínseca é exposto, consistindo na hipótese de que uma pessoa quando sente prazer numa atividade vai querer realizá-la mais vezes, independentemente do seu custo (Csikszentmihalyi, 1975). Para que uma pessoa possa sentir esse prazer necessita de ter o nível de competências e o nível de desafio mais alto do que a sua média habitual. Como explica O´Neill:

A teoria flow está estruturada segundo um modelo em quatro quadrantes: (1) equilíbrio entre desafios e competências em que ambas as variáveis estão acima da média individual (flow); (2) equilíbrio entre desafios e competências em que ambas as variáveis estão abaixo da média individual (apatia); equilíbrio entre desafio elevado e competência baixa (ansiedade); equilíbrio entre competências elevadas e desafios baixos (enfado). (O'Neill, 1999, p. 36)

 

Tendo em conta que vários componentes da prática de música podem ser alterados ao longo do CM, diminuindo o nível de competências, e que para entrar em estado de fluxo é necessário ter um equilíbrio entre o nível de competências e o nível de desafio, este estudo baseia-se na hipótese de que as experiências de fluxo de certas mulheres podem estar comprometidas no início da fase folicular e/ou no final da fase lútea.

As perguntas de investigação apresentadas neste trabalho foram baseadas na revisão de literatura anterior, focando a amostra disponível, sendo as seguintes: “Quais os pontos de vista de 30 estudantes de música relativamente à influência do ciclo menstrual no estudo e performance musical?” e “De que maneira as fases do ciclo menstrual afetam as experiências de fluxo de 17 estudantes de música?”.

Para encontrar as respostas às questões apresentadas no parágrafo anterior, a metodologia utilizada tem um caráter misto, ou seja, servir-se de métodos qualitativos para responder à primeira pergunta (Entrevista) e métodos quantitativos para responder à segunda (Fichas de Caraterização e Relatórios Individuais). Por sua vez, os relatórios individuais agrupam três testes diferentes: o Experience Sampling Method (ESM), que avalia as experiências de fluxo; o Método de Diagnóstico da Tensão Pré-Menstrual (MDTPM), utilizado para avaliar se cada mulher sofre de TPM; e, por fim, o Método do Calendário (MC), que serve para aferir as fases do ciclo menstrual de cada mulher.

 

Contacto

Através das redes sociais, foi enviada uma mensagem a estudantes de música do sexo feminino, onde foi exposto o tema da investigação e o pedido de colaboração na mesma. Conforme a disponibilidade e o interesse de cada pessoa, foi proposta a possibilidade de participar de três formas distintas: (1) através do fornecimento de novos contactos; (2) através da participação numa entrevista; e, finalmente, (3) através da participação nos relatórios individuais. Nesta mensagem, a investigadora comprometia-se com a preservação do anonimato de todas as participantes.

 

Entrevistas

As entrevistas são a opção metodológica encontrada para descobrir a resposta à primeira pergunta de investigação, através de opiniões fornecidas baseadas em experiências pessoais de estudantes de música, com cerca de dez anos de prática na área. As entrevistas foram realizadas através de vídeo chamada e gravadas em suporte áudio, com a devida autorização inicial das participantes para a sua gravação.

Para garantir que não existia hesitação, por parte de alguns elementos da amostra, no fornecimento da informação necessária (Lamb, Ulett, Masters, & Robinson, 1953), foi inicialmente explicado às participantes que não seria uma entrevista fechada, existindo, por tal, liberdade para conversar de forma descontraída sobre o assunto. Sendo assim, as entrevistas consideram-se semiestruturadas, servindo-se de um guião não fixo dividido em três partes.

Na primeira parte do guião pretende-se introduzir o tema e obter informações de caracterização, permitindo, assim, confirmar que esta é uma amostra pertinente para o estudo em questão. A amostra ideal consiste em mulheres que já têm alguma experiência, de aproximadamente dez anos, na área da música (Ericsson, Krampe, & Tesch-Romer, 1993). Na segunda parte, encontram-se perguntas relacionadas com o ciclo menstrual, começando com questões fáceis de responder e finalizando com a interligação com a prática de música. Por fim, a terceira parte é unicamente destinada às jovens que iriam realizar os testes de dois meses e, com esta, pretende-se obter informações sobre as experiências de fluxo, confirmando, desta maneira, ser esta uma amostra interessante para os testes. Estas perguntas tentaram confirmar que estas mulheres já experienciaram estados de fluxo, sem lhes explicar em que é que estes consistem. As quatro perguntas selecionadas tinham como objetivo reunir os dados relativos a: (1) “centering of attention”; (2) “coherent, noncontradictory demands”; (3) “merging of action and awareness”; (4) “the feeling of control”[15] (Csikszentmihalyi, 1975).

 

Fichas de Caracterização

As fichas de caracterização visavam a obtenção de dados fisiológicos pessoais (Kami, Vidigal, & Macedo, 2017) relacionados com o CM e outros que poderiam influenciar os resultados, tais como, a prática de exercício físico, a toma de anticoncecional e o estado de saúde. Estas fichas foram realizadas logo após a conclusão da entrevista, através da plataforma Google Forms.

 

Relatórios individuais

À semelhança de outros estudos, os relatórios individuais foram preenchidos durante dois meses consecutivos[16] (Darlington, Ross, King, & Smith, 2001); (Fridén C. , et al., 2003); (Chawla, Swindle, Long, Kennedy, & Sternfeld, 2002); (Lamb, Ulett, Masters, & Robinson, 1953); (Loucks & Thompson, 1968); (Sundström, et al., 1998). Para evitar esquecimentos, foram enviados lembretes diários, pelas 21:00, a todas as pessoas que, por essa hora, ainda não tinham preenchido o seu relatório. A plataforma Google Forms foi, também, usada para os relatórios individuais, tendo sido instruído à amostra para os preencherem sempre após uma prática de música (estudo de instrumento ou canto, aula de instrumento ou canto, ensaio, concerto). Os relatórios individuais de experiência agrupavam três testes [17] e o seu respetivo guião.

Existem cerca de sete métodos diferentes para monitorizar o CM (Collins, 1991). Para atingir os objetivos deste trabalho e de forma a tornar mais prático todo o processo para a amostra, foi escolhido o Método do Calendário (MC). Neste, a principal avaliação é feita através do registo do primeiro dia do ciclo, confirmado pelo primeiro dia de menstruação (Sundström, et al., 1998).

Para a avaliação dos estados de fluxo, foi utilizado o teste do Experience Sampling Method (ESM) (Farnworth, Mostert, Harrison, & Worrell, 1996) dividido em várias partes.  Nestas, foram criadas questões que servem para identificar as experiências de fluxo (através da secção de “Desafio e Competências”) e questões que auxiliam na confirmação da experiência de fluxo (através das secções “Atividade”, “Concentração e Controlo” e “Estados Subjetivos”). Existem, também, duas secções que, curiosamente, são iguais para os testes ESM e MC: “Sintomas de Dor” e “Influências” (Rivera-Tovar & Frank, 1990).

O método de avaliação utilizado para diagnosticar a Tensão Pré-Menstrual de cada mulher, como já foi referido, denomina-se “Método de Diagnóstico da Tensão Pré-Menstrual” (MDTPM) (Ekhorm & Backstrom, 1994). Através deste, são avaliados, pelo menos, oito sintomas da TPM durante um período de dois meses.

Finalmente, de forma a manter concordância em todo o relatório, foi utilizada a mesma escala para todos os testes, ou seja, de 0 a 9. Esta escala era inicialmente utilizada pelos testes ESM e visto que para os outros dois testes o tipo de escala “parece ser de pouca importância[18] (Ekhorm & Backstrom, 1994, p. 631) foi este o modelo que prevaleceu.

  

Recolha, Análise e Discussão dos Resultados 


Caraterização da amostra – Ficha de Caraterização

Do universo de mulheres contactadas (51) para participarem no projeto, 11 não responderam, 12 concordaram em participar nas entrevistas e 28 aceitaram participar em todo o projeto. No final, participaram ativamente neste estudo 30 estudantes de música.[19]

 

Gráfico 1 - Processo final de contacto da amostra

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A média das idades da amostra situa-se nos 24 anos, com um leque variado que se estende dos 17 aos 40 anos. Relativamente aos anos de experiência da amostra, o resultado mais baixo é de 9 anos de experiência e o mais alto é de 27 anos de experiência. A média de toda a amostra ronda os 15 anos de experiência profissional de música. A distribuição das atividades profissionais da amostra apresenta-se no gráfico 2 enquanto a distribuição por instrumentos está representada no gráfico 3. Os dados apresentados neste parágrafo foram recolhidos das transcrições realizadas a partir das entrevistas efetuadas.

 

Gráfico 2 - Atividade Atual da Amostra

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Gráfico 3 - Distribuição da Amostra por Instrumentos

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Com o objetivo de garantir que as participantes dos testes eram saudáveis e capazes de produzir resultados sem influências, foi solicitado que preenchessem uma ficha de caraterização. Da informação recolhida, destaca-se que a média do peso da amostra dos testes é de 60,29 (Kg), a média da altura situa-se em 1,64 (m) e a média do IMC[20] é de 22,35 (Kg/m2), sendo que o valor mais baixo é de 18,29 (baixo peso) e o valor mais alto é de 29,04 (pré-obesidade).

 

Gráfico 4 - Percentagem de mulheres com o ciclo regular e irregular

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Gráfico 5 - Percentagem de mulheres que tomam anticoncecional

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Gráfico 6 - Percentagem de fumadoras

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Entrevista

As entrevistas iniciaram-se no mês de janeiro de 2020 e finalizaram no mês de abril do mesmo ano. O método de análise das entrevistas foi inspirado no estudo das investigadoras Margaret Botticchio e Wilhelmina J. Vialle (Botticchio & Vialle, 2009). Primeiro, foram transcritas as trinta entrevistas, seguindo um modelo não naturalista[21], seguidamente, foram anotadas as principais ideias de cada resposta e, finalmente, foram agrupadas as respostas-chave em gráficos quantitativos. Foram, também, guardadas algumas respostas, na íntegra, por acrescentarem valor para a discussão.

 

Teoria de Fluxo

Todas as entrevistadas confirmaram o gosto pela música, sendo que a maior parte apresenta mais do que um motivo de natureza interna e externa, como é possível observar nos gráficos 7 e 8.

 

Gráfico 7 - Respostas à pergunta "Gostas de música? Porquê?" de natureza interna.

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Gráfico 8 - Respostas à pergunta "Gostas de música? Porquê?" de natureza externa.

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A primeira pergunta “Gostas de música? Porquê?” teve como objetivo iniciar a entrevista de uma forma descontraída, tentando, porém, perceber qual a razão destas mulheres para se dedicarem profissionalmente à música. Nas entrevistas realizadas, grande parte das mulheres demonstraram gostar de música por estas três razões intrínsecas: faz-me sentir bem / relaxa-me; já toco há muito tempo / faz parte de mim; é uma linguagem / forma de expressar sentimentos. No entanto, outra resposta destaca: "E: … Porque me provoca um tipo de sentimento muito diferente de qualquer outra coisa, que é muito específico, mas que eu não consigo descrever, é quase como uma paixão, mas não é bem.". Esta resposta sugere que a pessoa está a tentar descrever uma experiência de fluxo, mas, como não conhece o termo, chama-lhe um sentimento específico, quase uma paixão. No final, apenas duas raparigas foram excluídas por não conseguirem recordar bons momentos na prática de música que possam ser equiparadas a uma experiência de fluxo.

 

Ciclo Menstrual – Sintomas Físicos

Em concordância com o artigo de Andersch, Wendestam, Hahn e Ohman, de 1986, os sintomas físicos mais relatados pela amostra foram: dores de cabeça, dores no peito, dores de barriga ou cólicas. Em resposta à pergunta: “Normalmente tens dores na altura da menstruação?”, algumas raparigas relataram sintomas tão graves que chegam a ser insuportáveis, sendo necessário a toma de analgésicos.

 

Gráfico 9 - Resumo das respostas à pergunta "Normalmente tens dores na altura da menstruação?"

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De acordo com a observação do gráfico 10, um sintoma frequentemente relatado e não revelado nos artigos revistos é a dor de costas. Uma simples explicação pode estar relacionada com a terminologia utilizada pelos investigadores, visto que a dor de costas e a dor de barriga podem ser consideradas uma única dor no útero. No entanto, não foram encontradas referências deste tipo. Uma outra possível explicação é que um músico, independentemente do instrumento, necessita de ter um grande controlo da postura, levando, por vezes, a esforços e compensações na coluna que podem conduzir à dor de costas. Na altura da pré-menstruação e menstruação, estas dores podem ser mais acentuadas pelo aumento de sensibilidade da mulher, traduzindo-se num sintoma físico menstrual falso.

 

Gráfico 10 - Resumo das respostas à pergunta "Que tipo de dores?”

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Gráfico 11 - Outros sintomas relatados após a pergunta "Que tipo de dores?"

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Alguns relatos da amostra também indicam que a capacidade de manter a postura pode estar comprometida nas fases pré-menstruais e menstruais, como por exemplo: "G: … no primeiro dia é raro eu conseguir tar 45 minutos seguidos a estudar, porque costumo estar sentada (…) na posição certa, durante muito tempo seguido.". Outras respostas apoiam esta ideia, afirmando que, quando sentadas têm dificuldade em manter a postura devido ao desconforto e às dores.

 

Ciclo Menstrual – Sintomas Mentais

Em resposta à pergunta: “E mentalmente, sentes diferenças?”, os sintomas mais vezes citados foram o cansaço, a irritação, a depressão, o mau humor, a sensibilidade, a impaciência e o desinteresse. Estes sintomas vão ao encontro das descrições apresentadas na revisão de literatura (Backstrom, et al., 1983); (Andersch, Wendestam, Hahn, & Ohman, 1986).

 

Gráfico 12 - Resumo das respostas à pergunta "E mentalmente, sentes diferenças?"

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Nesta amostra, apenas uma pessoa revelou que não sente nenhum sintoma deste tipo. As restantes vinte e nove mulheres expressaram as mesmas dificuldades de motivação e de produtividade, através de diversas formas negativas. Segundo estas mulheres, estes sintomas complicam principalmente o estudo, tendo em conta que em momentos de performance a situação providencia uma espécie de anestesia: "A: …situação de concerto eu acho que é um pouco diferente porque uma pessoa está concentrada num concerto e não é muito tempo (…) eu acho que durante aquele período uma pessoa abstrai-se um pouco das dores da menstruação"; "AB: … quando estou com muitas dores e tudo, se vou fazer um concerto (…) A adrenalina faz-me perder um bocado as dores (…) Mas podes ter a certeza que quando o concerto acaba, vem a violência,"; "AC: … se é uma coisa que envolve palco, normalmente eu ando assim anestesiada de dores que tu tenhas,". Outras mulheres comentaram que, embora a qualidade da performance não é afetada diretamente, a disponibilidade é diferente, afetando indiretamente o momento do concerto, por ser prejudicado o estudo dessa semana.

 

Ciclo Menstrual – Prática Musical

Uma das questões mais importantes deste estudo consistia em perceber até que ponto estes sintomas menstruais afetam ou não a prática de música, segundo a experiência pessoal de trinta mulheres músicas. As respostas foram praticamente unânimes ao declararem que o CM afeta, de alguma maneira, o estudo ou a performance musical.

 

Gráfico 13 - Resumo das respostas à pergunta "Já sentiste que essas diferenças físicas e mentais afetam, ou já afetaram, o teu estudo ou performance do teu instrumento?"

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"H: … tenho a certeza que sim, porque não afeta só isso, afeta todo o nosso dia a dia, a nossa predisposição para fazer tudo e a maneira como nós vamos lidar com tudo, por exemplo, um problema que eu tenha a tocar, (…) para a próxima semana, e seja o mesmo problema que acontece antes de vir o período, ou quando eu já estou com a menstruação, tem um impacto muito maior se eu estiver emocionalmente mais fragilizada. Eu acho que é por ai, e tudo parece (…) mais difícil de se resolver, uma pessoa fica mais confusa”

 

Através da pergunta: "Já sentiste que essas diferenças físicas e mentais afetam, ou já afetaram, o teu estudo ou performance do teu instrumento?" foi possível obter os primeiros dados documentados sobre a opinião geral de estudantes de música, por exemplo:

"N: Olha, muitas vezes estou até a estudar e (…) desistia, tinha de ir para o sofá. Portanto, isso afetava ao ponto de eu não fazer tarefa. E estou a falar, por exemplo, na universidade. (…) lembro-me, por exemplo, é senso comum acho, com o stress, com os nervos, fazia-me muitas vezes vir a menstruação irregular, não sei se há mais raparigas que se queixam disso (...) Aconteceu muitas vezes na véspera do exame de piano, pumba!, lá me vinha o período, e ainda nem era tempo, ok?! Portanto, afetava drasticamente, sim."


Gráfico 14 - Diferentes formas em que o ciclo menstrual afeta o estudo - Resumo das respostas à pergunta "Já sentiste que essas diferenças físicas e mentais afetam, ou já afetaram, o teu estudo ou performance do teu instrumento?"

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Em resposta à mesma questão, várias instrumentistas de sopro e cantoras comentaram que sentem dificuldade em apoiar o ar com o diafragma na altura da pré-menstruação e da menstruação. Estas queixas traduzem-se tanto pelo: “L: esforço e (…) trabalho constante da zona abdominal", que é intensificado nesta fase, traduzindo-se, por vezes, em dor:

"O: … eu não tinha dores antes, quando comecei a estudar canto na universidade. Como temos de fazer o apoio que envolve muito essa musculação, na altura do período eu tenho essa musculação muito dorida, não funciona bem, tenho de fazer um apoio extra, tenho de esforçar um bocadinho mais para conseguir apoiar e isso provoca-me dores extra”

 

Ciclo Menstrual – Tabu dentro da sala de aula

A última questão “Já alguma vez sentiste necessidade ou facilidade em falar sobre este assunto com o teu professor de instrumento?” foi acrescentada mais tarde, visto que bastantes mulheres orientaram a conversa nessa direção.

 

Gráfico 15 - Resumo das respostas à pergunta "Já alguma vez sentiste necessidade ou facilidade em falar sobre este assunto com o teu professor de instrumento?”

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Os dados demonstram que 18/23 raparigas sentem necessidade de falar sobre este assunto. Contudo, apenas metade destas sentiu facilidade em mencionar o CM como uma razão para pior desempenho numa aula de instrumento. Do ponto de vista do professor que, em princípio, deve ambicionar que as suas alunas estejam completamente interessadas e focadas no trabalho, a consideração deste tema poderá ser mais uma ferramenta de trabalho.

"E: É assim, eu sinto diferença a nível da aula como ela decorre, que fico (…) sempre frustrada com que eu estou a fazer, e se não me saem as coisas como eu quero, só que não digo (…) que é devido a isso (…) não comento sequer, peço só desculpa no final da aula, por não estar ao máximo."

 

Várias raparigas mencionaram que não dizem nada aos seus professores porque não querem “dar a desculpa”. Mesmo aquelas que conseguem falar sobre o assunto, tentam não o abordar muitas vezes.

"D: O meu professor é homem, se calhar se fosse mulher, tinha mais alguma à vontade para falar, mas mesmo assim, se calhar não ia falar, porque lá está, porque se calhar iria parecer uma desculpa, o que não é, mas, não sei se ia ser aceitável para o professor ou professora"

 

Este é um dado interessante, pois revela que existem mulheres que acreditam que os sintomas associados ao ciclo menstrual poderão ser considerados uma desculpa para não realizarem as tarefas.

"J: Já me aconteceu (…) ter uma aula de clarinete e (…) não estava chateada com nada, (…) simplesmente estava sem paciência, ou estava com o período ou estava-me para vir, não sei qual é que era, e o meu professor estava sempre: Olha, mas estás chateada; estás triste; o que é que se passa?  E eu: Não se passa nada! Porque literalmente não se passava nada e ele continuou sempre a insistir e eu disse: Professor, estou com o período. É isso que se passa. E ele: Ah! Pronto, ok! Nunca usei a desculpa do “ah, está a correr mal” ou “estou sem paciência porque estou com o período”. Nesse momento disse porque (...) ele, literalmente, não me deixou tocar enquanto eu não dissesse o motivo e o motivo era que: Estou com o período, não estou com paciência, deixe-me estar"

"T: Eu nunca falei por questões, ou seja, (…) não vale a pena eu (…) criar essa desculpa, porque no mundo profissional eu não vou dizer numa orquestra: Olhe, desculpe, hoje vou falhar, mas porque estou com o período! Não, (…) tens um concerto que estou a tocar, sou a primeira trompista, na orquestra de Berlim, e chego lá e: Olhe, desculpe, eu sei que hoje temos de tocar a nona de Mahler, mas não me sinto muito bem, desculpe lá qualquer coisa! Porque basicamente no mundo profissional isso não (…) pode ser desculpa, então eu própria tento não criar essa desculpa"

 

De acordo com estes relatos, é possível levantar novas questões. Será que o CM é uma desculpa para a não realização de tarefas? Em que situações é aceitável mencionar o CM no mundo da música? A primeira questão parece ser rapidamente respondida através da leitura da revisão bibliográfica deste trabalho, onde vários estudos demonstram as diferentes complicações relacionadas com o ciclo hormonal feminino (Pierson & Lockhart, 1963); (Dalton, 1960); (Rees, 1953); (Lamb, Ulett, Masters, & Robinson, 1953); (Andersch, Wendestam, Hahn, & Ohman, 1986); (Hallman & Georgiev, 1987); (Endicott, et al., 1999); (Ekhorm & Backstrom, 1994). É possível que esta ideia de “desculpa” seja produto da escassa educação relativamente a este tema, bem como do tabu que ainda existe perante o mesmo. Grande parte da informação obtida, nos primeiros anos da adolescência, vem da família, de amigos ou, então, esporadicamente, abordada em contexto escolar. Dado que a aprendizagem evolui através da repetição, esta parece manter-se como uma grave lacuna na educação feminina.

Relativamente à segunda pergunta, é possível especular que as situações aceitáveis sejam quando, em aula de instrumento, o exercício proposto pelo professor agrave algum sintoma menstrual físico ou mental da aluna. Um destes exemplos é relatado por uma instrumentista de sopro:

"Q: … quando eu era mais pequena, antes de tomar a pílula, era difícil porque, por exemplo, havia muitos professores que me encostavam à parede, para fazer exercícios de respiração, pressionavam na barriga e eu já estava cheia de dores"

 

Esta é uma situação em que uma aluna estava a sentir um desconforto físico e as ações do professor, embora inconscientemente, agravaram a dor. Por sua vez, num outro exemplo é retratado um sintoma mental de sensibilidade:

"F: Isto até pode parecer estúpido, mas, por exemplo, (…) lembro perfeitamente no início, que nalgumas aulas em que eu estava com a menstruação, que, às vezes, o professor, por exemplo, chamava a atenção de alguma coisa ou, de muitas vezes, e eu já não tinha paciência e (…) ele me dizia alguma coisa, eu ficava logo a chorar"

 

Nos dois exemplos acima citados, caso existisse facilidade em falar sobre este assunto, evitar-se-iam situações de maior tensão dentro da sala de aula. O conhecimento sobre os ciclos menstruais pode facilitar o trabalho dos professores, em contexto de sala de aula, ajudando a criar laços com as alunas, tal como é explicado por uma das participantes nesta investigação: "AD: … eu falo por mim, eu noto diferença. Se tiver um professor ou uma professora que entende do assunto, acho que isso também faz muita diferença.".

 

Relatórios de Experiência

Foram, ao todo, excluídas dos relatórios três raparigas. Duas falharam em obter um resultado positivo da entrevista e outra foi eliminada por ter um CM demasiado comprido para este estudo. Sendo assim, participaram nos testes dezassete mulheres.

No total, foram recolhidos 781 relatórios de experiência, desde 13 de fevereiro de 2020 até 1 de junho do mesmo ano. Para a recolha e processamentos dos dados, foi utilizado o programa Excel, para criar uma tabela com os seguintes itens: data, nível de desafio, nível de competências, experiência, valor, fase do ciclo, influências e resultados.

 

Tabela 1 - Exemplo de uma tabela de Excel - Rapariga X

17 tabela1

 

Após serem conhecidos todos os dados relativos aos níveis de desafio e competências, foi, então, calculada a média destes, utilizando a seguinte fórmula:

 

Equação 1 - MR: Média de respostas; NvR: Número de vezes que respondeu; Par: Parâmetro; NR: Número de relatórios

equacao

 

Seguidamente, foram calculados os tipos de experiências: Flow (Fluxo), Ansiedade, Apatia ou Enfado, com o auxílio da figura 2, tendo esta sido retirada do artigo de Farnworth, Mostert, Harrison e Worrell, de 1996.

 

Figura 2 - Flow, ansiedade, enfado e apatia segundo o nível de desafio e de competências.

18 figura2

 (Farnworth, Mostert, Harrison, & Worrell, 1996)

 

Figura 4 - K - Dia 03/03/20 - Estado subjetivo (Concentração e Controlo)  Figura 3 - K - Dia 23/02/20 - Estado subjetivo   (Concentração e Controlo) 
 19 figura4  20 figura3

                    

Para os relatórios que sugeriam estado de fluxo, foram analisados os estados subjetivos. Quando estes demonstravam resultados claros, como no exemplo da figura 3, foram, então, confirmados os estados de fluxo. Contrariamente, como é possível observar na figura 4, sempre que as respostas eram contraditórias, negativas ou baixas, o relatório correspondente foi categorizado como “flow não confirmado”. Nos casos dúbios foi mantida a primeira definição.

A fim de garantir a imparcialidade na verificação dos resultados, só após se confirmarem os estados de fluxo é que a investigadora analisou as fases menstruais. Estas foram, então, medidas, utilizando o Método do Calendário (MC), que consiste na verificação do primeiro dia do CM e no cálculo dos 14 dias seguintes para aferir o dia de ovulação. Depois foram, finalmente, elaborados gráficos de experiências de fluxo em cada fase do CM para cada participante.

O teste do TPM teve de ser eliminado, visto que grande parte das mulheres não realiza um estudo diário. Assim sendo, de forma a garantir que o método fosse igual para todas, os dados deste teste não foram utilizados[22].

 

Estados de Fluxo

Através da análise dos gráficos, é possível observar que as experiências de fluxo são cíclicas para 10/17 mulheres da amostra. Os gráficos realizados para estas demonstram que as experiências de fluxo se encontram, maioritariamente, afastadas do primeiro dia de menstruação, durante a Fase Folicular Final (FFF), facto que é possível observar no gráfico 16, ou, então, durante a Fase Lútea Inicial (FLI), disponível no gráfico 17.

 

Gráfico 16 - Rapariga K - Fase Folicular 1

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Gráfico 17 - Rapariga K - Fase Lútea 1

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Uma possível explicação para o comportamento, descrito nos gráficos, poderá dever-se às flutuações de estrogénio e de progesterona que decorrem ao longo do CM feminino. Tendo em conta que, com estas oscilações, certos componentes fisiológicos, como o controlo muscular, o tempo de reação, a propriocepção, a postura e a fadiga, são alterados, sendo possível que o nível de competências da mulher diminua na Fase Folicular Inicial (FFI) ou na Fase Lútea Final (FLF).

Observando os dados de caracterização destas dez mulheres afetadas, não se consegue encontrar um padrão que se aplique para todas. Foi necessário recorrer aos fatores de influência, como o anticoncecional e o exercício físico. Apenas uma destas mulheres esteve sobre o efeito destas duas influências durante os testes. As restantes apenas estiveram sobre o efeito de um. No entanto, esta explicação tem várias falhas, como, por exemplo, qual o tipo de pílula e/ou que tipo e quantidade de exercício praticado.

Das restantes sete mulheres que fizeram parte do estudo, apenas três apresentaram resultados inconclusivos. No caso da rapariga AC, os resultados inconclusivos resultaram de uma primeira FLF com quatro experiências de fluxo, o que sugere que aquela não é afetada pela fase hormonal. Porém, as restantes três fases demonstraram o contrário. A rapariga X apenas apresentou uma experiência de fluxo na FLF, o que não permite comparar com as restantes fases. A outra rapariga que demonstrou resultados inconclusivos é a H, que não demonstrou atingir nenhum estado de fluxo.

É provável que ambas as raparigas tenham sido afetadas psicologicamente pela pandemia de COVID-19 que ditou o isolamento social obrigatório durante várias semanas[23]. Olhando para as caraterizações, as raparigas AC e H têm uma influência de prática de exercício físico de quatro vezes por semana e não tomam a pílula. A rapariga X demonstra o contrário, pois não faz exercício físico, mas toma a pílula.

Ao todo, 4/17 mulheres não demonstraram resultados que pudessem ser relacionados com o CM. Os gráficos que se aplicam a estas mulheres demonstram experiências de fluxo igualmente distribuídas pelas fases hormonais, que são possíveis observar no gráfico 18.

 

Gráfico 18 - Rapariga J - Fase Lútea 2

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Curiosamente, os resultados aleatórios da rapariga J podem ser explicados, por um lado, pela toma de anticoncecional e, por outro, pela prática excessiva de exercício físico, o que pode estar a diminuir ou a eliminar os sintomas da menstruação (Sudheer, Jagadeesan, & Kararshah, 2016); (Shier, Butler, & Lewis, 2007, p. 877).

O contrário acontece com a rapariga G que não toma a pílula nem faz exercício físico, mas, no entanto, os resultados não demonstraram ser afetada pelo CM. Para as restantes duas raparigas, também não foi possível fazer uma observação através dos dados de caraterização e influências. Nesta situação, o teste MDTPM seria uma possível ferramenta para concluir esta análise. 

 

Produtividade

Contrariamente ao esperado, a maioria das mulheres desta amostra 12/17 não pareceram ser afetadas pelo CM, relativamente aos dias de estudo. Para estas mulheres, os gráficos representam um estudo regular, por todo o ciclo hormonal, com dias de pausa espaçados, observáveis no gráfico 19.

 

Gráfico 19 - Rapariga Z – Fase Lútea 2

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Tendo em conta todos os relatos das entrevistas que apontam para uma pior produtividade no período da pré-menstruação ou menstruação, seria esperado que os dados demonstrassem menos dias de estudo na FLF ou FFI. Uma possível explicação para estes resultados poderá ser a grande capacidade de autocontrolo, que um músico tem de desenvolver ao longo do seu percurso, permitindo que o estudo se mantenha regular, independentemente da vontade.

As restantes 5/17 raparigas demonstraram quebras na rotina musical quer na FLF, quer na FFI.

 

Gráfico 20 - Rapariga C - Fase Lútea 1

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Gráfico 21 - Rapariga E - Fase Folicular 2

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Embora estes gráficos sejam os mais evidentes, as restantes mulheres demonstraram quebras de estudo mais subtis relacionadas com o CM.

 

Limitações do Estudo

Aquando da realização deste trabalho de investigação aconteceram vários imprevistos que limitaram a qualidade dos resultados. Quer por erros de planeamento, quer por acontecimentos externos, estas limitações alteraram os resultados e, por esta razão, serão devidamente expostas neste capítulo.

O Método do Calendário (MC), que serviu para avaliar o CM da amostra, apresenta dois erros de planeamento. O primeiro consiste na errada interpretação da bibliografia, mais especificamente, na leitura da duração aconselhada à realização dos testes. Da interpretação realizada, foi concluído que os testes deveriam ter um espaço de dois meses, enquanto, na realidade, estava explícito que estes deviam ser realizados durante dois ciclos menstruais completos (Darlington, Ross, King, & Smith, 2001); (Fridén C. , et al., 2003); (Chawla, Swindle, Long, Kennedy, & Sternfeld, 2002); (Lamb, Ulett, Masters, & Robinson, 1953); (Loucks & Thompson, 1968); (Sundström, et al., 1998).

O segundo erro de planeamento do método de avaliação utilizado consistiu na falha em aferir com exatidão a ovulação (primeiro dia da Fase Lútea). Segundo um estudo de Barron e Fehring, de 2005, a medição diária da temperatura basal[24] não pode ser utilizada como único teste de avaliação do dia de ovulação. No entanto, juntamente com o MC, é um método ideal para a avaliação da duração dos ciclos e as suas respetivas fases (Barron & Fehring, 2005).

Para além dos erros cometidos na avaliação do CM, também foi feito um erro de planeamento do método de avaliação utlizado para diagnosticar a Tensão Pré-Menstrual de cada mulher. Para a realização do “Método de Diagnóstico da Tensão Pré-Menstrual” (MDTPM) era necessário realizar uma avaliação diária de, pelo menos, oito sintomas da TPM (Ekhorm & Backstrom, 1994). Como o preenchimento dos relatórios não foi diário, fator que não foi tido em conta, foi impossível utilizar os dados deste teste para dividir a amostra em grupos. Esta teria sido uma ótima ferramenta para perceber até que ponto a intensidade do TPM, em cada mulher, está relacionada com a prática musical.

Outra das grandes limitações deste estudo deveu-se ao inesperado surgimento, a nível mundial, da doença pandémica designada por COVID-19.  Esta eclodiu em Portugal em meados de março, tendo alastrado a vários pontos do país, obrigando os cidadãos a um confinamento obrigatório. Esta fase coincidiu com a de preenchimento dos relatórios de todas as mulheres participantes na investigação. Não é possível saber, com exatidão, até que ponto a pandemia alterou ou não os resultados. Porém, é possível proceder a uma estimativa com base na análise dos dados dos relatórios.

Observando o número de experiências de fluxo, bem como as descrições na secção “Influências” de algumas mulheres da amostra, é possível detetar um padrão negativo que ocorreu no início da segunda quinzena de março.

Um outro fator que leva a ponderar o impacto do confinamento obrigatório reside no feedback da amostra. Como foi necessário manter o contacto telefónico com as mulheres, a fim de lembrar o necessário preenchimento dos relatórios, quase todos os dias, durante o período de isolamentos social, foram recebidos alguns desabafos sobre depressão e desmotivação provocadas pela pandemia.

 

Reflexão Final

Através da recolha de dados em três fontes diferentes de informação, nomeadamente, a revisão de literatura, a entrevista a 30 estudantes de música e os resultados dos relatórios de experiência de 17 mulheres músicas, pretendeu-se alcançar os quatro objetivos orientadores da perceção deste tema, bem como responder às duas perguntas de investigação.

Um dos objetivos traçados pretendia a realização de uma revisão bibliográfica o mais completa possível que facilite a pesquisa para futuras investigações sobre este tema. Para ir ao encontro deste objetivo, foi investido um grande esforço na compreensão e aplanação de fontes vindas das áreas da saúde e do desporto. A primeira conclusão obtida, após a revisão bibliográfica, foi a possibilidade de existir uma maior improdutividade das estudantes de música nas fases pré-menstrual e menstrual. Esta conclusão foi suportada pelos relatos das entrevistas. Porém, com os resultados dos relatórios de experiência, não se consegue ter essa perceção, uma vez que 12/17 mulheres não demonstraram quebras de estudo relacionadas com o ciclo menstrual. É possível que estes resultados sejam produto de algumas limitações deste estudo.

No que diz respeito ao objetivo inicial de descobrir se existem ligações entre o estudo da música e o CM, a revisão bibliográfica demonstra alguns componentes que podem ser limitados nas fases menstrual e pré-menstrual. Curiosamente, um destes componentes foi relatado nas entrevistas. Algumas mulheres exprimiram uma certa dificuldade em manter a postura na prática do instrumento durante estas fases. Um outro ponto de ligação entre o estudo da música e o CM foi também relatado em algumas entrevistas, particularmente, por várias cantoras e instrumentistas de sopro. Estas exprimiram uma grande dificuldade em apoiar o ar com o diafragma durante o período da pré-menstruação e da menstruação. Embora não existam, para já, estudos que se foquem neste problema, o facto de existirem várias mulheres a queixarem-se evidencia uma necessidade de futuras investigações. Por fim, o último ponto de ligação, exposto neste estudo, consiste nos resultados dos testes de experiências de fluxo. Tal como foi possível observar, 10/17 mulheres demonstraram uma maior quantidade de experiências de fluxo nas FFF/FLI. Estes resultados, todavia, foram alcançados num estudo com algumas limitações, que devem ser tidas em consideração.

Para alcançar o objetivo de consciencializar as estudantes de música sobre as condições do género na profissão, será necessário realizarem-se muitos mais estudos que incidam nos aspetos anteriormente explanados. Sendo esta uma das primeiras investigações a ser realizada neste âmbito, a revisão bibliográfica não demonstra nenhuma condição estudada. No entanto, os estudos relacionados com a voz podem ser considerados para este efeito. Observando os resultados das entrevistas, é possível constatar que a performance não parece ser afetada pelo CM, visto que várias mulheres sentem uma espécie de anestesia na altura do concerto. Mais ainda, verifica-se que algumas mulheres sentem dificuldade em falar deste assunto com o professor de instrumento, pois acreditam que poderão estar a dar uma desculpa. São, por isso, necessários mais estudos a fim de perceber em que situações será aceitável mencionar o CM no mundo da música.

O quarto e último objetivo foi criar uma contextualização para mulheres músicas que, por um lado, sirva de guia de medidas atenuantes dos efeitos e, por outro, que ajude a interpretar esses sintomas no seu dia-a-dia. Segundo a revisão de literatura, existem quatro fatores que influenciam o comportamento do CM, logo cada mulher deve ter em conta estas influências na autoanálise do seu ciclo. Através das entrevistas foi, também, possível perceber que a menstruação pode aparecer em momentos de maior stress, como concertos ou provas. Por este motivo, é importante que cada mulher monitorize o seu ciclo, através de uma agenda ou aplicação de telemóvel. Foi, ainda mencionada, numa entrevista, a história de uma mulher que estava a sentir dores e desconforto na FFI e que, através de exercícios de concentração e relaxamento, conseguiu realizar um ótimo concerto. Não foram, porém, especificados quais estes exercícios.

 

Conclusão

Neste trabalho de investigação abordam-se várias situações relacionadas com o universo feminino: como funciona o CM, o porquê de este permanecer um tabu, que a postura é possivelmente afetada durante a prática de música, que algumas mulheres sentem uma enorme dificuldade em apoiar o diafragma durante a fase menstrual e, ainda, que parece existir uma tendência para as mulheres entrarem em estado de fluxo nas FFF/FLI. Com base nestas constatações, levantam-se novas questões, como por exemplo: em que momentos é aceitável mencionar o CM no mundo da música?, que componentes, importantes para a prática de música, são alterados no decorrer do ciclo hormonal feminino?, até que ponto o  CM influencia a produtividade das mulheres músicas? e, ainda, porque é que algumas mulheres têm tendência para entrar em estado de fluxo nas FFF/FLI, enquanto outras não?

No final deste trabalho conclui-se que o ciclo hormonal feminino, que continua a não ser alvo de uma educação própria, deve ser valorizado no ensino musical das mulheres, pois irá acompanhar grande parte das suas vidas profissionais.

 

 

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Notas

[1] “These results show that women have sexual preferences for composers of more complex music during peak Conception times, but not outside this time. By contrast, a menstrual cycle shift in preferences was not seen when women were asked to choose which composer they would prefer as a long-term partner, or during the control experiments using visual stimuli varying in complexity.” (Charlton, 2014, p. 4)

[2] Também é possível encontrar estudos relacionados com a voz, que estão abordados na secção “Outros Componentes” presente na página 9.

[3] Fatores que levam à diferença dos resultados estão abordados na secção” Influências”, na página 10.

[4] Fatores que levam à diferença dos resultados estão abordados na secção “Influências” na página 10.

[5] “The contrast between the late follicular and late luteal phase in many of these women is striking. Not only does this help us to see that there is a good as well as a bad part of the cycle, but allowances for some contrast effect, leading to amplification of differences must also be made (i.e., the follicular phase may be experienced and reported as particularly good, partly as a result of the contrast with a really bad premenstrual phase and vice versa).”  (Backstrom, et al., 1983, p. 505)

[6]Outcomes from the current study support the hypothesis that lower extremity neuromuscular control is affected by menstrual phase.” (Dedrick, et al., 2008, p. 75)

[7]Hence, although our findings revealed no acute changes in isometric torque production across the cycle, we cannot rule out possible hormone effects on other aspects of neuromuscular control that contribute to dynamic movement.” (Montgomery & Shultz, 2010, p. 592)

[8] Uma breve abordagem sobre o efeito do exercício no ciclo hormonal feminino é apresentada na secção “Influências”, na página 10.

[9]The results of our two studies concur in failing to show any reliable relationship between performance and the hormonal status of our subjects.” (Hutt, Frank, Mychalkiw, & Hughes, 1980, p. 122)

[10]The main finding of this study was that women with PMS (cyclic) had a significantly greater postural sway compared with women without PMS (noncyclic). A tendency towards greater postural sway during the mid-luteal phase was also detected among women with PMS. Furthermore, women with PMS had a significantly greater threshold for detection of passive movements in the knee joint than did women without PMS.” (Fridén C. , et al., 2003, p. 437)

[11] “Progesterone caused a significant increase in basal body temperature…” (Goodland, Reynolds, McCoord, & Pommerenke, 1953, p. 315)

[12] “This study showed that fatiguability and electrically stimulated contractile properties of the quadriceps did not change over the menstrual cycle.” (Janse de Jonge, Boot, Thom, Ruell, & Thompson, 2001, p. 165)

[13]Here, we show that drospirenone containing oral contraceptive pill (Yasmin, Schering AG, West Sussex, UK) with antiandrogenic and antimineralocorticoid properties demonstrates a significant reduction in the irregularity of the pattern of vibration of the vocal folds during the performance of highly trained classical singers.” (Lã, Ledger, Davidson, Howard, & Jones, 2007, p. 754)

[14]The more active an athlete, the more likely it is that she will have menstrual irregularities.” (Shier, Butler, & Lewis, 2007, p. 877)

[15] (1) “centralização da atenção”; (2) “exigências coerentes e não contraditórias”; (3) “fusão entre ação e consciencialização”; (4) “o sentimento de controlo”.

[16] Esta informação está incompleta e a sua explicação está presente na secção “Limitações do Estudo”, presente na página 34.

[17] A explicação detalhada de cada teste está disponível na secção “Relatórios de Experiência”, na página 27.

[18]Rating scales of several types exist; the type used seems to be of minor importance. The rating scale should be rapid and easy for the patient and sensitive to changes in her mood, and should allow rapid evaluation by the doctor(Ekhorm & Backstrom, 1994, p. 631)

[19] Curiosamente e ao contrário do esperado, foi muito fácil encontrar uma amostra para esta investigação. De facto, este tema despertou o interesse de muitas mulheres, pelo que foi necessário limitar o número de participantes.

[20] O IMC (Índice de Massa Corporal) permite observar o estado de saúde de uma pessoa, através do peso e da altura, utilizando a seguinte formula:  (Direcção-Geral da Saúde, 2005).

[21] “A transcrição naturalista corresponde à transcrição minuciosa do que é dito e exatamente como é dito e preconiza a preservação dos diferentes elementos da entrevista para além do conteúdo verbal, tais como a linguagem não-verbal, aspetos contextuais e de interação entre o entrevistador e o entrevistado (ou de terceiros envolvidos; Oliver et al., 2005). Por outro lado, segundo os mesmos autores, a transcrição não naturalista privilegia o discurso verbal e centra-se na omissão dos elementos idiossincráticos do discurso, tais como gaguez, pausas, vocalizações involuntárias e linguagem não-verbal, apresentando-se, por isso, como uma transcrição mais polida e seletiva.” (Azevedo, et al., 2017, p. 161)

[22] Uma explicação detalhada encontra-se na secção “Limitações do Estudo”, na página 34.

[23] Esta análise será exposta na secção “Limitações do Estudo”, na página 34.

[24] A temperatura corporal basal é a temperatura do corpo do ser humano ao acordar.

 

Joana Ribeiro

Natural de São João da Madeira, com apenas 9 anos, Joana Ribeiro começou a dar os primeiros passos musicais no coro dos Pequenos Cantores. Em 2009, foi admitida na Escola Profissional de Música de Espinho, na classe de harpa orientada pela professora Ana Paula Miranda, onde viria a concluir o Curso de Instrumentista de Cordas e Teclas. Em 2013, ingressou no Conservatorium van Amsterdam, na classe orientada pela professora Erika Waardenburg, tendo estudado durante um ano. Frequentou a Licenciatura em Música, especialização – performance em harpa, na Universidade de Aveiro, obtendo 20 valores no recital final. Concluiu os seus estudos com o Mestrado em Ensino da Música em 2020, na Escola Superior de Música de Lisboa, com a orientação da professora Carolina Coimbra, onde obteve 19 valores na sua dissertação de mestrado “As Influências do Ciclo Menstrual no Estudo e Performance Musical. Estudo Exploratório”.

Ao longo do seu percurso artístico frequentou masterclasses/cursos de aperfeiçoamento técnico e performativo, com professores e solistas conceituados: Ilaria Vivan (IT), Carla Boss (NL), Stephanie Manzo (FR), Mário Falcão (PT), Karen Vaughan (GB), Carrol McLaughlin (US), Irina Zingg (RU), Skaila Kanga (GB), Naoko Yoshino (JP), Isabelle Perrin (FR), Park Stickney (US), Mara Galassi (IT), Carolina Coimbra (PT), Sylvain Blassel (FR), Salomé Matos (PT), Veronika Lemishenko (RU). Realizou duas edições de cursos intensivos para harpa na Suíça, orientados pela professora Irina Zingg – 7th HarpMasters (2012) e 8th HarpMasters (2013). Em Portugal participou em cinco edições de cursos intensivos para harpa – 1st HarpWeek Porto (2013); 2nd HarpWeek Porto (2014); 4th HarpWeek Porto (2016), Lisboa Harp Seminar (2017) e Lisboa Harp Seminar (2019).

Em 2018, teve a oportunidade de, pela primeira vez, se apresentar a solo com a Orquestra Filarmonia das Beiras, sob a direção do maestro Vasco Negreiros.

Como professora de harpa assumiu a docência, em regime de substituição, das classes de harpa: do Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian (2019); da Fundação Conservatório Regional de Gaia e, ainda, da Academia de Música de Vilar do Paraíso (2020). Atualmente reside em São Miguel, onde leciona no Conservatório Regional de Ponta Delgada.